24 de setembro de 2007

Thiago Camilo salva o Judô Mundial

21'Set'2007 - Divulg. JUDOBRASIL

Com técnica, maturidade e principalmente demonstrando o que é Judô, Thiago Camilo emprestou ao Campeonato Mundial o brilho necessário aos olhos da expressiva amostragem de amantes dessa modalidade, que até o momento de sua primeira luta, pouco tinham visto do verdadeiro Judô. Venceu sete lutas por ippon apesar das três primeiras lutas terem sido com adversários fracos, (Aruba, El Salvador e Monte Negro). Veio, viu e venceu, fazendo o que poucos fizeram. Só vi o russo Nevzorov dar sete ippons de utimata, inclusive no japonês Kuramoto, no Mundial de Viena 1975. Do mesmo nível técnico de Thiago destacaram-se os japoneses Y. Muneta, Inoue e Suzuki, no masculino e Riyoko Tani no feminino. Iliadis da Grécia, Cousins da Inglaterra e Riner da França, também merecem destaque pelo Judô apresentado. No geral presenciamos um Judô onde os lutadores procuraram se esquivar do mais importante fundamento técnico; a “pegada”, contato direto para domínio do adversário para a execução e controle da principal característica do Judô; o arremesso. Na busca incessante pelas medalhas, foi regido pela estratégia de se conseguir a mínima vantagem, através de um simples agarre ou de penalidades. Um Judô onde ninguém entra para lutar e vencer e sim para não perder. Realmente uma ofensa aos amantes do Judô tradicional e dou razão ao professor japonês do interior de S.Paulo que estava em minha companhia. Após assistir os dois primeiros dias, no terceiro disse: “Odairu, hoje vai dormir né! Penso ia aprender coisa diferente campeonato de Mundo né, mas não aprende nada né!” Relembro aqui o auge do Judô Nacional e Internacional desde I. Okano a Y. Yamashita, de Anton Geesink a Nevzorov, e de L. Shiozawa a Chiaki Ishii. Todos os judocas dessa época viveram o verdadeiro Judô. Reencontrei amigos das seleções brasileiras de 1965 a 1975 que compartilham da mesma opinião.Tenho certeza que o atual técnico da seleção J. Shinohara tem a mesma opinião. O Japão venceu o Campeonato Mundial não só nas medalhas, mas também no rendimento técnico, deixando o Brasil em segundo lugar nas medalhas, que terminou perdendo no rendimento técnico para o Japão, França e Cuba. A última vez que o Japão ganhou todas as medalhas de ouro foi no Mundial de 1973 em Lausanne, Suíça. Um resultado inédito para o Brasil, com o melhor lutador da competição, que apesar dos reveses políticos para disputar na sua verdadeira categoria, conseguiu com paciência, perseverança e seu Judô de alto nível, comprovar no tatami que é o legítimo dono da mesma. Pequim o espera, mas terá que lutar não só no tatami, mas também com as articulações políticas que atuam nos porões dos conciliábulos, e no final agem tal qual Poncio Pilatos. Os Japoneses apesar de apresentarem seu grande ídolo Inoue, fora de seu peso ideal, acabou não passando pelas eliminatórias, juntamente com Suzuki prejudicado por uma arbitragem deficiente e insegura que causou polêmica. O Brasileiro Luciano Correa, combativo e ousado, evoluiu, venceu a categoria meio-pesado, mas sem ainda uma técnica aprimorada, foi campeão sem demonstrar um Judô técnico. Quanto ao nosso peso pesado João Schlittler apesar de sua medalha de bronze, parece que suas declarações de que “era importante a casa cheia, pois a torcida pode influenciar a arbitragem a punir um rival em um momento chave” (Folha de S. Paulo 12/09/07) não o ajudou. Será essa a orientação que é dada aos atletas pelos técnicos e dirigentes? O peso meio-leve, João Derly apesar de bicampeão mundial, e ter aplicado um “meio ude gaeshi”em um de seus adversários, nunca apresentou um Judô bonito de se ver. Vence demonstrando um agarra-agarra, como todos de sua categoria. Declarou ao jornal O Estado de S. Paulo(17/09/07), que “foi estudado por todos os adversários e que teve muita dificuldade para impor seu estilo”. Que estilo? Wrestling, Greco Romana ou Huka Huka? Nas suas sofridas últimas lutas, vi até Utimata sem segurar no judogui do adversário e infelizmente vi nosso técnico, J. Shinohara desesperado, torcer e pedir por penalidades. No feminino, já vi lutas melhores nos campeonatos regionais nas categorias infantil e juvenil em S.Paulo. Entre as nossas atletas, somente Mayra Aguiar e Érika Miranda, devidamente bem orientadas e treinadas poderão aspirar grandes resultados. A nossa orientadora técnica (torcedora) continua tripudiando como sempre, torcendo e implorando por penalidades, chegou a ponto de levantar-se de sua cadeira e instigar o público a fazer o mesmo. Lamentável. A arbitragem repito, deficiente e insegura, por duas vezes ou mais, fez com que prevalecesse a opinião do coordenador de árbitros e não dos três árbitros que tinham decidido pelo ippon. Também falhou muito em não punir atletas que insistiram na não combatividade, pois muitas lutas ficaram mais de dois minutos sem contato direto, o que já seria Hansoku make (desclassificação). Parece que os árbitros já foram contaminados pelo anti-Judô. E nossos árbitros, onde estavam? Sede do campeonato Mundial e tínhamos apenas um árbitro atuando, que por sinal é o mesmo desde 1992. É uma situação que só vem prejudicar a arbitragem nacional, pois os que aspiram chegar ao nível de árbitro Mundial e Olímpico, ficam desmotivados desde o início da carreira, vendo que é sempre o mesmo a participar das competições internacionais. É indignação geral entre os árbitros no Brasil. Continuando assim logo não teremos árbitros suficientes para nossas competições. Um país que pela sua participação e conquistas já faz parte da história do Judô mundial não pode estar fora da Federação Internacional de Judô. Está na hora de termos novamente alguém como tínhamos Sergio Bahi e o saudoso Prof. Dr. Carlos Catalano que foi um dos mais conceituados membros da F.I.J na sua época. Quanto a Pequim não se deve ficar perdendo muito tempo com cansativas seletivas, muitas vezes seletivas políticas para agrado geral, mas com prejuízos individuais. Os atletas classificados (1° a 5° no mundial) precisam de apoio financeiro, médico, nutricional, treinamento adequado, e participação nos torneios internacionais e estágios de treinamento na Europa e por último no Japão. Nessa fase pré-olímpica, o estrito acompanhamento de uma equipe técnica, com três ou quatro técnicos, preparador físico, médico, nutricionista e fisioterapeuta é importantíssimo. Não é nenhuma novidade, é a praxe de grandes equipes. Única dificuldade com o treinamento no Japão é que lá se deve treinar Judô como treina o japonês, o que talvez não seja do agrado de nossos atletas e dirigentes. Judoca de alto nível precisa saber treinar, derrubar e cair contra adversários de qualquer idade (7 a 70), peso e estatura. Se o “treinamento for sincero”, ("O Judô Moderno" – publicação anterior JUDOBRASIL) estarão em ótimas condições físicas, técnicas e psicológicas para os Jogos Olímpicos. Parabéns aos professores e técnicos João Gonçalves, Uitiro Umakakeba, Floriano de Almeida e Juniti Shinohara, sempre os mais esquecidos.

Odair Borges é mestre em Educação Física pela Universidade de São Paulo (USP), foi o primeiro judoca brasileiro a estagiar no Japão (Universidade de Waseda) no início da década de 70, foi integrante da seleção brasileira durante muitos anos. Cabe ressaltar que sua tese de mestrado foi avaliada (e aprovada) no Japão posto que, na época, não havia uma banca examinadora brasileira preparada para analisar um trabalho específico de Judô.

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