Mais um texto de um membro do Conselho de Kodanshas do Rio Grande do Sul, versando sobre a disciplina no judô, escrito pelo professor Carlos Matias, ex-presidente da Federação Gaúcha de Judô.
O comentário do Sensei Cleto, ao qual parabenizo, me oportuniza iniciar a minha contribuição. É interessante notar, no comentário do sensei, que alguns professores, que não sabem se portar à beira do shiai-jô, são extremamente educados no trato pessoal.Em sua grande maioria tem suas origens junto a professores conhecidos por sua rígida disciplina e por isto, sabem como se comportar. No passado, alunos, hoje, professores, talvez não tenham, ainda, assimilado, esta condição educacional. Quando estão ali, à beira do shiai-jô gritando de forma deseducada, imaginando estar defendendo os interesses de seus alunos e passando aos pais esta imagem, na verdade estão ensinando aos seus educados, como agir nestas ocasiões, tendo ou não razão. E, isto, vai para a vida. Vamos vencer no grito, ou de qualquer maneira. Deveriam pregar, aos seus, a luta pela competência e assim, levar para seus futuros estas atitudes leais e corretas. Uma competição é um lapso de nossas vidas. Lá estamos nós com o nosso adversário (no futuro um problema qualquer). Os árbitros serão aqueles que no dia a dia julgarão nossas atitudes e o público, nada mais são que as pessoas do nosso mundo. Se vencermos o problema seremos bem sucedidos e reconhecidos, mas devermos continuar agindo com dedicação para manter nossas conquistas. Se perdermos, teremos a oportunidade de recomeçar e tentar outra vez. Não é assim na vida? Voltando ao comportamento dos técnicos nas cadeiras técnicas, enfatizamos que são pessoas educadas. Fazem suas saudações aos demais colegas, aos mestres, às pessoas de outras associações demonstrando que tiveram escola para serem comportados. O que os leva a esta transformação? Aí, talvez, deva entrar a figura da Federação e seu Tribunal. Se eles são educados fora das cadeiras, então é um problema disciplinar e cabe ao Tribunal coloca-los em seu devido lugar. Como nas multas de trânsito. De tanto ser multado, a maioria pensa antes de cometer nova infração. A maioria aprende.
O Diretor de Árbitros, o Diretor Técnico e o Presidente do Tribunal, deveriam buscar uma alternativa, mais ágil, que permita, nos eventos, fazer uma denúncia única a todos os que se comportarem indevidamente. Esta denúncia seria encaminhada ao TJD e os técnicos serão chamados ao uma sessão. Não adiantará? Talvez demore, mas de tanto ser punido, o professor poderá dar-se conta de seu ato impensado e na repercussão junto aos seus alunos e pais, pois a competição é um “meio” e não um “fim”. O que queremos é a educação e a formação de nossos alunos, estendendo aos seus pais esta dimensão.
O que esses professores tem que entender é que o Judô nos diferencia das demais artes marciais. Os pais já sabem e procuram as escolas de Judô para ajudá-los na educação. Já ouvi pais, em sua primeira competição com seus filhos, comentar: o que é isto? Coloquei meu filho no Judô para aprender a ser disciplinado e agora me encontro num meio estressado com professores gritando e, às vezes, brigando entre si e crianças chorando. Não podemos decepcioná-los. Nós, Faixas-Pretas temos passar a idéia que o Judô é uma filosofia comportamental de vida que não se esgota nos limites do tatame ou na porta de nosso Dojô. Não se trata de ser monge e viver como um eremita. Vai para a vida. Se quisermos que vá para a vida dos nossos alunos, temos que cultiva-la dentro de nós.
Participar de competições é importante para auxiliar na formação do indivíduo, independente da classificação. Apenas, não se deve ter tanta pressa em inscrever os alunos nos eventos oficiais ou amistoso. Queimar etapas é perigoso pois sempre algum complemento acaba ficando para trás.
O professor Paulo Roberto Cardoso, em seu brilhante comentário, salientou o lado desportivo do Judô como um elemento que está exigindo uma reflexão pela comunidade. Isto, porque o lado competitivo, embora necessário, pode ser frustrante se não for bem administrado pelos professores. Por um lado a pressa de ensinar “algumas técnicas”, inscrever em eventos e colher os frutos, muitas vezes econômicos. Outras vezes pelo comportamento no Dojô onde muitas coisas são permitidas com a finalidade de manter o aluno e sua contribuição.
O Dojô é o lugar onde se aprende o caminho que deve ser trilhado com constância e sabedoria e jamais com pressa. Por isso é que se leva muitos anos para aprender até chegar a Faixa-Preta onde, realmente, começa a prática do Judô e o aprendizado continua.
Fala-se muito em alto-rendimento. O que realmente é isso? Quem e quantos se enquadram neste nível?
No RS devem ter, aproximadamente, 3.000 atletas federados, considerando-se a anuidade de 2011. Qual o percentual de atletas de rendimento? Vamos pensar em 5% deste público, totalizando 150 atletas de rendimento conforme os critérios técnicos. Será que são tantos assim? Vamos passar para 10%, só para raciocinar. Neste caso ficaríamos em 300 atletas de alto-rendimento. Tudo isto?
Agora, vamos deixar este número de lado e nos ater aos 90% restantes (2.700 praticantes no nosso exemplo). Onde se enquadram? O que resta para esses? É claro que tem os mesmos direitos a praticar e competir, mantendo seus sonhos de, um dia, serem iguais ao João Derly. No entanto, nós, educadores, temos que saber administrar esta diferença para que se mantenham praticando e conquistem vitórias proporcionais às suas habilidades técnicas… Uma pergunta que eu, quando Presidente da Federação, sempre fazia aos faixas marrons, candidatos à sho-dan: quantos começaram com vocês, na faixa branca, e hoje estão aqui, já passaram por vocês ou estão próximos desta conquista.
O nosso compromisso, no magistério do Judô, é muito maior que a simples busca do quanto, financeiramente, podemos ganhar ao final de cada mês. Quando na rua encontramos alguém que foi nosso aluno há muito tempo e, este, abraça-nos e agradece pelo que fizemos por sua educação, o que sentimos? Não tem preço, não é?
Estas contribuições dos Kodanshas, e de outros professores sérios, deve provocar uma reflexão no que estamos fazendo pelo esporte que tanto nos deu. A discussão é de todos os que realmente se importam.
Então, decidiremos o que queremos para nós e para nossos alunos.
O comentário do Sensei Cleto, ao qual parabenizo, me oportuniza iniciar a minha contribuição. É interessante notar, no comentário do sensei, que alguns professores, que não sabem se portar à beira do shiai-jô, são extremamente educados no trato pessoal.Em sua grande maioria tem suas origens junto a professores conhecidos por sua rígida disciplina e por isto, sabem como se comportar. No passado, alunos, hoje, professores, talvez não tenham, ainda, assimilado, esta condição educacional. Quando estão ali, à beira do shiai-jô gritando de forma deseducada, imaginando estar defendendo os interesses de seus alunos e passando aos pais esta imagem, na verdade estão ensinando aos seus educados, como agir nestas ocasiões, tendo ou não razão. E, isto, vai para a vida. Vamos vencer no grito, ou de qualquer maneira. Deveriam pregar, aos seus, a luta pela competência e assim, levar para seus futuros estas atitudes leais e corretas. Uma competição é um lapso de nossas vidas. Lá estamos nós com o nosso adversário (no futuro um problema qualquer). Os árbitros serão aqueles que no dia a dia julgarão nossas atitudes e o público, nada mais são que as pessoas do nosso mundo. Se vencermos o problema seremos bem sucedidos e reconhecidos, mas devermos continuar agindo com dedicação para manter nossas conquistas. Se perdermos, teremos a oportunidade de recomeçar e tentar outra vez. Não é assim na vida? Voltando ao comportamento dos técnicos nas cadeiras técnicas, enfatizamos que são pessoas educadas. Fazem suas saudações aos demais colegas, aos mestres, às pessoas de outras associações demonstrando que tiveram escola para serem comportados. O que os leva a esta transformação? Aí, talvez, deva entrar a figura da Federação e seu Tribunal. Se eles são educados fora das cadeiras, então é um problema disciplinar e cabe ao Tribunal coloca-los em seu devido lugar. Como nas multas de trânsito. De tanto ser multado, a maioria pensa antes de cometer nova infração. A maioria aprende.
O Diretor de Árbitros, o Diretor Técnico e o Presidente do Tribunal, deveriam buscar uma alternativa, mais ágil, que permita, nos eventos, fazer uma denúncia única a todos os que se comportarem indevidamente. Esta denúncia seria encaminhada ao TJD e os técnicos serão chamados ao uma sessão. Não adiantará? Talvez demore, mas de tanto ser punido, o professor poderá dar-se conta de seu ato impensado e na repercussão junto aos seus alunos e pais, pois a competição é um “meio” e não um “fim”. O que queremos é a educação e a formação de nossos alunos, estendendo aos seus pais esta dimensão.
O que esses professores tem que entender é que o Judô nos diferencia das demais artes marciais. Os pais já sabem e procuram as escolas de Judô para ajudá-los na educação. Já ouvi pais, em sua primeira competição com seus filhos, comentar: o que é isto? Coloquei meu filho no Judô para aprender a ser disciplinado e agora me encontro num meio estressado com professores gritando e, às vezes, brigando entre si e crianças chorando. Não podemos decepcioná-los. Nós, Faixas-Pretas temos passar a idéia que o Judô é uma filosofia comportamental de vida que não se esgota nos limites do tatame ou na porta de nosso Dojô. Não se trata de ser monge e viver como um eremita. Vai para a vida. Se quisermos que vá para a vida dos nossos alunos, temos que cultiva-la dentro de nós.
Participar de competições é importante para auxiliar na formação do indivíduo, independente da classificação. Apenas, não se deve ter tanta pressa em inscrever os alunos nos eventos oficiais ou amistoso. Queimar etapas é perigoso pois sempre algum complemento acaba ficando para trás.
O professor Paulo Roberto Cardoso, em seu brilhante comentário, salientou o lado desportivo do Judô como um elemento que está exigindo uma reflexão pela comunidade. Isto, porque o lado competitivo, embora necessário, pode ser frustrante se não for bem administrado pelos professores. Por um lado a pressa de ensinar “algumas técnicas”, inscrever em eventos e colher os frutos, muitas vezes econômicos. Outras vezes pelo comportamento no Dojô onde muitas coisas são permitidas com a finalidade de manter o aluno e sua contribuição.
O Dojô é o lugar onde se aprende o caminho que deve ser trilhado com constância e sabedoria e jamais com pressa. Por isso é que se leva muitos anos para aprender até chegar a Faixa-Preta onde, realmente, começa a prática do Judô e o aprendizado continua.
Fala-se muito em alto-rendimento. O que realmente é isso? Quem e quantos se enquadram neste nível?
No RS devem ter, aproximadamente, 3.000 atletas federados, considerando-se a anuidade de 2011. Qual o percentual de atletas de rendimento? Vamos pensar em 5% deste público, totalizando 150 atletas de rendimento conforme os critérios técnicos. Será que são tantos assim? Vamos passar para 10%, só para raciocinar. Neste caso ficaríamos em 300 atletas de alto-rendimento. Tudo isto?
Agora, vamos deixar este número de lado e nos ater aos 90% restantes (2.700 praticantes no nosso exemplo). Onde se enquadram? O que resta para esses? É claro que tem os mesmos direitos a praticar e competir, mantendo seus sonhos de, um dia, serem iguais ao João Derly. No entanto, nós, educadores, temos que saber administrar esta diferença para que se mantenham praticando e conquistem vitórias proporcionais às suas habilidades técnicas… Uma pergunta que eu, quando Presidente da Federação, sempre fazia aos faixas marrons, candidatos à sho-dan: quantos começaram com vocês, na faixa branca, e hoje estão aqui, já passaram por vocês ou estão próximos desta conquista.
O nosso compromisso, no magistério do Judô, é muito maior que a simples busca do quanto, financeiramente, podemos ganhar ao final de cada mês. Quando na rua encontramos alguém que foi nosso aluno há muito tempo e, este, abraça-nos e agradece pelo que fizemos por sua educação, o que sentimos? Não tem preço, não é?
Estas contribuições dos Kodanshas, e de outros professores sérios, deve provocar uma reflexão no que estamos fazendo pelo esporte que tanto nos deu. A discussão é de todos os que realmente se importam.
Então, decidiremos o que queremos para nós e para nossos alunos.
Carlos Matias, Kodansha 7° dan
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