9 de fevereiro de 2008

ROGÉRIO SAMPAIO - Um campeão olímpico vítima das lesões

A conquista do ouro olímpico em Barcelona-92 realmente não era esperada. Antes de se tornar um ídolo do esporte nacional, Rogério Sampaio quase ficou de fora dos Jogos. Em 89, ele apoiou Aurélio Miguel em uma briga com a Confederação Brasileira de Judô. A partir de então não disputou mais nenhuma competição oficial.

Seu retorno se deu apenas no início de 92, graças a um acordo com o então secretário de esportes, o ex-jogador de vôlei Bernard. Desde então se viu obrigado a fazer uma intensa preparação, treinando 12 horas por dia e realizando uma rigorosa dieta para ficar abaixo dos 65 kg, peso máximo exigido para a categoria meio-leve.

Em Barcelona, foram cinco lutas. No início, muita tensão contra o português Augusto Almeida. "Fiquei muito assustado, o tatame parecia enorme. Mas deu tudo certo". Depois, vieram pela frente feras como o sul-coreano Sang-Moon Kim, o argentino Francisco Vivas (então campeão pan-americano) e o alemão campeão mundial Udo Quellmalz, até a consagração com um wazari sobre o húngaro Jozsef Csak. "Estava incrivelmente tranqüilo. Foi minha melhor luta".

A alegria pela medalha de ouro só não foi maior devido à morte de seu irmão, o também judoca Ricardo. Um ano antes da conquista, ele se suicidou por causa de uma desilusão amorosa. "Sem a força de Ricardo, não teria ido tão longe. Sei que ele também estaria aqui, e para ganhar, se estivesse vivo", disse Rogério.

Os dois irmãos haviam começado juntos a praticar judô. Rogério não entrou no esporte por opção. A indicação foi dada aos seus pais por um pediatra, como forma de domar o garoto agitado de temperamento bastante forte. "Eu ia obrigado para as aulas. Não gostava mesmo", conta.

Com o tempo, ele foi se dedicando mais até se tornar um atleta promissor. Aos 16 anos, já conquistava o título paulista juvenil. Em 83 chegaria o seu primeiro título internacional, o Pan-americano juvenil, conquista repetida dois anos mais tarde. O objetivo de ser campeão olímpico foi traçado em 84, depois da prata conquistada por Douglas Vieira nas Olimpíadas de Los Angeles. "Desde que ele foi prata, eu passei a sonhar com o título. Vi que o ouro era possível".

Logo após as Olimpíadas, Rogério decide mudar para a categoria leve (até 72 kg). "Assim posso me preparar sem precisar me preocupar com o peso. Entrarei nas competições com o melhor da minha forma atlética", disse o lutador. A grande missão de Rogério Sampaio em 93 era consolidar-se como um dos maiores lutadores do mundo, uma vez que a medalha em Barcelona foi dada como surpreendente pela mídia internacional. E a resposta veio em Hamilton, no Canadá, com a medalha de bronze no Campeonato Mundial, feito até então só repetido no Brasil por Chiaki Ishii, Walter Carmona e Aurélio Miguel, os três grandes ídolos de Rogério Sampaio no judô.

A boa campanha no Mundial acabou sendo o último grande feito de Sampaio. Em 95, o judoca perderia nas seletivas e acabaria ficando de fora dos Jogos Pan-americanos, realizados em Mar Del Plata, na Argentina. No final do mesmo ano, vem a frustração ao cair em mais uma seletiva, desta vez para as Olimpíadas de Atlanta. Ainda sofrendo de uma lesão muscular na coxa esquerda, ele acabou eliminado por Sérgio Oliveira.

Para Sampaio, a decepção foi pela rigidez imposta pela Confederação Brasileira de Judô, que dava aos atletas apenas uma chance de disputar uma vaga nos Jogos. Rogério acredita que, por ter sido campeão olímpico, mereceria uma segunda chance, mas a entidade não pensou da mesma maneira. Desta forma, restou a Rogério trabalhar em Atlanta como técnico de Danielle Zangrano e como comentarista da TV Record.

Fora dos Jogos, Rogério perdeu também o patrocínio do Banco do Brasil, o que acentuaria ainda mais o declínio de sua carreira. Sem dinheiro, ele encontrou dificuldades para treinar e passou a se dedicar mais às aulas de judô em Santos. Em 97, mais uma vez problemas físicos o impediram de disputar uma competição importante. Desta vez, ele sentiu fortes dores na costela durante uma luta contra Márcio Varejão, sendo obrigado a abandonar a seletiva.

Com tantas dificuldades, Rogério decide deixar de defender o Brasil em competições internacionais em 98. Além dos problemas de patrocínio, ele se dizia cansado e sem paciência de lidar com a Confederação Brasileira de Judô, na época comandada pela família Mamede.

Dois anos mais tarde, Sampaio anunciou o fim de sua carreira. Sua última luta foi nos Jogos Abertos do Interior. Em 2001, sua primeira experiência como técnico de uma seleção de judô. O ex-atleta comandou a equipe feminina nas Universíadades de Pequim, ao lado de Aurélio Miguel, que na época estava à frente da categoria masculina. Desde então, após passagem pela seleção masculina de juniores, ele dedica-se à sua academia, localizada na cidade litorânea de Santos. Por ela, já passou inclusive Leandro Guilheiro, medalhista de bronze em Atenas-04.

GAZETA PRESS

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