4 de março de 2008

Judoca Mayra Aguiar é esperança de medalha em Pequim

Atleta gaúcha ganhou ouro na categoria até 70kg na Copa do Mundo de Varsóvia

Em junho passado, a judoca gaúcha Mayra Aguiar, então com 15 anos, se divertia com a condição que seu técnico impunha: só namoraria quando tivesse 30 anos. Agora, quando ela retornar da Europa à Capital, com uma medalha de ouro no peito e a vaga olímpica garantida, vai ter de se acostumar com um novo prazo:

– Só quando tiver 33! Aumentei mais três anos, para dar mais tempo ao judô – sorri seu treinador na Sogipa, Antonio Carlos Pereira, o Kiko, considerado por Mayra como um segundo pai.

Tudo isso porque a gaúcha de 16 anos, 10 de judô, comprovou sua enorme evolução nos tatames ao vencer, na categoria até 70kg, na Copa do Mundo de Varsóvia (Polônia), no último domingo. E o nível técnico de suas adversárias, como a italiana Ylenia Scapin, bronze em Atlanta/1996 e Sidney/2000, e a rival na decisão e, a chinesa Dou Shumei, bronze na Supercopa do Mundo de Hamburgo, na semana anterior, dão ainda mais peso ao título de Mayra.

Com essa conquista, uma das mais significativas de sua carreira, juntamente com a prata no Pan do Rio, Mayra colocou os dois pés na Olimpíada de Pequim e se torna a mais jovem atleta da delegação de judô a ir para a China e uma das mais jovens do Brasil.

– É uma evolução tão grande que a deixa entre as melhores do mundo. Com certeza isso significa que ela tem muita chance de medalha olímpica – observou Kiko.

Ontem, em trânsito de Varsóvia para Portugal, onde ficará por mais uma semana em treinamento antes de retornar a Porto Alegre, Mayra não precisou driblar sua conhecida timidez com o assédio da imprensa e de colegas no dia seguinte a uma conquista dessas, como seria se estivesse aqui. Ela esteve incomunicável. Nem Kiko conseguiu falar com a judoca, e teve de lidar por aqui com o alvoroço:

– Que dia hoje (ontem)! Muitas ligações, muita gente me cumprimentando. O clube todo...

Mas, como quem já trilhou este mesmo caminho, o gaúcho João Derly, bicampeão mundial, entende o que deve se passar na cabeça de Mayra:

– Nessa idade, a gente nem pensa muito. É mais coração, a gente chega e vai competindo, competindo. É difícil ter dimensão. Eu só pensava em me manter no topo, que é mais difícil do que chegar. Acho que ela está assim também.

E João, de certa forma, é um pouco responsável pelo sucesso da colega. Para Kiko, o desempenho de Mayra se deve, além da enorme dedicação, ao treinamento realizado junto dos dois campeões mundiais na Sogipa, Derly e Tiago Camilo, ambos já classificados para a Olimpíada, a partir de agosto:

– Quem tem persistência para agüentar o ritmo deles, que é muito forte, tem que dar certo.

Em 2005, Mayra teve influência direta na preparação de João Derly para o Mundial do Cairo, no Egito, sendo uma espécie de sparring (o atleta que fica "apanhando" para ajudar o treino do outro). Resultado: João voltou como o único brasileiro campeão mundial de judô.

E se a performance de Mayra na Europa é encarada como impecável e deixa o pódio olímpico mais perto, Kiko ainda lembra:

– E ela tem mais cinco meses para treinar até Pequim.

Priscila Montandon - priscila montandon@zerohora.com.br

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